Michel Faro Praddo, o Diabo, é conhecido pelas mudanças corporais que faz. Atualmente com mais de 60 modificações e com quase 85% do corpo tatuado, pretende ingressar no livro dos recordes como o homem mais modificado do mundo. Mas mexer com o corpo é tão saudável?

“Todos esses procedimentos são extremamente arriscados. Todo procedimento cirúrgico tem seu risco, seja ele médio ou grande, todos têm risco”, diz Alexandre Kataoka, cirurgião plástico e médico especialista da Secretaria da Justiça do Estado de São Paulo.

O próprio Diabão teve uma complicação recentemente e teve que ser levado ao hospital após a ruptura dos pontos de uma abdominoplastia ̵

Entre as modificações que Michel passou estão 17 implantes de silicone; 30 escarificações; sete implantes transdérmicos; remoção de parte do nariz, orelha e remoção dos mamilos e dedo anular; uma tatuagem do globo ocular (tatuagem no “branco” do olho); uma bifurcação na boca, um implante dentário de prata, entre outros.

O próprio Michel afirmou em uma entrevista recente com UOL que “a retirada do dedo foi feita por um amigo mexicano considerado um dos maiores modificadores do mundo”. Esse tipo de ação já traz um alerta, visto que a cirurgia não foi realizada por médico.

Isso porque todo procedimento cirúrgico apresenta risco de infecção, principalmente se não for feito em um local adequado.

“Nenhum médico vai fazer isso, você não está trazendo benefício. O médico faz o juramento de promover saúde. Qualquer intercorrência que o médico der pode até perder o CRM [registro no conselho de classe necessário para atender]”, explica Fernando Amato, cirurgião plástico e membro titular da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica).

Pneumonia e infecções respiratórias

A retirada de parte do nariz, por exemplo, pode trazer diversas complicações, não só no período pós-operatório, mas também no futuro. Além de ter função essencial na respiração, o nariz também protege o pulmão, evitando infecções respiratórias.

“O nariz tem a função de respirar e umidificar o ar. A retirada pode trazer vários problemas de saúde, principalmente com a própria respiração. Como a pessoa não vai ter a válvula nasal, o nariz não vai exercer a função de umidificar o ar, então você pode ter infecções respiratórias, como sinusites e resfriados, ou problemas pulmonares. Como o ar não está sendo filtrado, essa pessoa tem maior risco de pneumonia, broncopneumonia e afins ”, explica Kataoka.

A retirada das orelhas, por outro lado, afeta todo o aparelho auditivo, podendo até tornar a pessoa surda.

“O pavilhão da orelha [parte externa da orelha] serve para direcionar o som e proteger o canal auditivo [parte interna da orelha]. Vai expor mais o conduto auditivo e pode ter perda auditiva, tanto porque o fluxo sonoro não é tão adequado, direcionado, quanto pode aumentar o risco de infecção por não haver proteção ali ”, afirma Fernando Amato.

“Um dos riscos, por exemplo, é o desenvolvimento da meningite, já que ali se torna uma porta de entrada para bactérias”, acrescenta o médico especialista.

Mas não são apenas as remoções que podem causar problemas. Os implantes de limpeza e de silicone também trazem riscos à saúde, especialmente infecções, que podem até levar à perda de órgãos.

“A má cicatrização já é um problema, mas é exatamente o que eles querem na hora de fazer as mudanças. Porém, isso pode perder o controle, gerar uma ferida que não fecha, uma infecção maior e prolongada, causando celulite, erisipela ou até mesmo a perda da função de um órgão. Uma infecção mais grave na mão pode levar à perda dele, por exemplo ”, explica Amato.

Modificações de boca

Além das tatuagens nos olhos, retiradas de partes do corpo como nariz e orelhas, outro local bastante modificado é a boca. O Homem Lagarto, por exemplo, tem a língua bifurcada, o que pode causar distúrbios da fala ou respiratórios.

“A modificação na anatomia da língua pode levar a alterações em sua função, como na fala e na deglutição, que podem ter consequências em longo prazo de alterações oclusais e até respiratórias”, destaca Sofia Takeda Uemura, dentista e presidente do Comitê de Ética do Crosp (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo).

“É preciso também lembrar os riscos de sangramento, infecção e secção de nervos durante o procedimento”, completa.

A bifurcação dos lados da boca, procedimento realizado por Diabão, pode levar à quelite angular, uma inflamação no canto da boca, devido à umidade constante causada pela mudança no formato do lábio.

“Mudanças na anatomia da boca podem levar a dificuldades no selamento labial, importante para a fala e deglutição; à exposição constante do meio bucal com ressecamento das mucosas e dos dentes”, explica Uemura.

O cirurgião-dentista afirma ainda que mudar a forma dos dentes, como colocar presas, pode alterar a mordida e os movimentos mastigatórios, “pode ​​causar desgastes inadequados nos dentes antagonistas, alterações na articulação temporomandibular e nos músculos mastigatórios, gerando dor”.